Havia em algum lugar… uma bruxa nada medrosa, mas que era especializada em se proteger. Ela andava com cautela, se vestia com muito cuidado e olhava sempre para todos os lados. E do seu lado, o que nunca lhe saía de perto era seu lampião, um amigo para todas as horas. Em qualquer que fosse a estrada, casa, monte, campo, qualquer lugar, seu lampião ela iria levar. Ele estava sempre aceso, pois que lhe trazia exatamente a luz que precisava. Mesmo quando ela menos esperava. Mesmo quando achava que o vento não iria lhe deixar acendê-lo ou quando acreditava que sua pequenina luz não seria páreo para uma tamanha escuridão. O lampião mostrava exatamente o que ela precisava ver para continuar seguindo. Ele era mágico! E quando ela pontava sua luz para qualquer que fosse o caminho, o lampião mostrava exatamente onde a estrada iria dar. Mostrava lágrimas ou sorrisos que ela poderia alcançar. Mas saber exatamente onde um caminho ia te levar tirava por vezes o gosto do caminhar.
Ela queria saber a sensação de seguir seu coração. Mas como confiar em sentidos que não sabia ainda usar? Refletindo sobre isso, ela olhou para frente e avistou a costumeira floresta perto de sua casa. Queria adentrar aquele lugar, mas o lampião já havia lhe mostrado que lágrimas ali estavam a lhe esperar. Curiosa, temerosa, agitada e sem saber o que fazer, ela resolveu parar por instantes e ouvir sua respiração. A respiração foi sussurrando feito o vento, levando seus sentidos a ouvir seu coração….que palpitava esperançoso por ser ouvido, finalmente, com um pouco mais da coragem que ele tanto sentia que sempre teve. Mas o som de dentro foi silenciado. Algo mais alto e assustador parecia vir de fora. As nuvens se entrelaçavam cinzas, chocando entre relâmpagos e trovões. Uma tempestade estava por vir. A bruxa correu para dentro e pegou seu lampião. Acendeu-o rapidamente e o que viu lhe chocou grandemente: sua casa estava ao chão! Em pedaços, sem poder mais lhe proteger… Para onde iria? O que iria fazer?
Correu para fora e apontou seu lampião por diferentes direções. Ao leste: só via alagamento. Ao Norte: alguns lugares para se proteger, mas uma vida que não lhe agradaria.

Ao Oeste: montanhas altas e difíceis de subir. Ao Sul: a boa e velha floresta que sempre quis desbravar. Olhou fixamente para a floresta. Ela parecia lhe chamar. Estaria ouvindo vozes? Nesse momento, ela parou. Ouviu o vento da tempestade que se aproximava. Ouviu os raios que brilhavam no céu. Ouviu sua respiração ficando cada vez mais sonora aos seus ouvidos… ouviu seu coração, que agora tinha lugar em sua percepção. Seu coração parecia tocar seu som. Tocava seu peito. Tocava seu corpo. Tocava …um sino. Um sino? Como assim um sino?
Blin Blin Blin 🔔
Um sino sim. Como era possível?
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Conectada em si, a tempestade já não parecia tão alta e assustadora. Começou a dar passos em direção a floresta e o som do sino mais alto ficou…
Blin! Blin! Blin! 🔔
Lembrou do seu lampião por instantes. Devia apontá-lo naquela direção e ver o que estava por vir. Ela precisava saber se era seguro aquele caminho seguir.
Blin Blin Blin 🔔
Seu coração tocava… Enquanto suas mãos relaxavam e, da sua mão esquerda, o lampião caía no chão. A queda e o vento forte o apagou. Seu vidro rachou levemente, mas não quebrou. E a terra o acomodou gentilmente para enfrentar a tempestade. A bruxa parecia estar em transe e nada viu. Seu lampião, mágico que era, sabia bem que era hora de deixá-la seguir um caminho sem certezas e cheio de coração. Silenciou sua luz, aquietou suas visões e dormiu sereno em meio à tempestade. O sino continuou tocando. E tocava, ecoava pela floresta, vibrando entre galhos, folhas, e até passarinhos que se abrigavam por lá.
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Ele tocava, ela tocava, ela seguia. Estava dentro ou fora de si esse sino que ouvia? Não sabia e não procurou saber. Seguiu seu caminho entendendo que dentro e fora ela também poderia ser. Seguiu seu caminho procurando nem tudo entender.
Blin Blin Blin 🔔
…Sentindo que do lado de dentro ela também sabia se proteger. 💛☀️

Renata Brügger 🍃